Escrevendo cartão de Natal para os queridos. Não fazia isso há uns quinze anos.
*
Encomendei mais figos, mais uvas. Tenho bebido um bocado de vinho, jogado um monte papel fora, escrito os textos que posso escrever, lido os livros que dou conta e visto séries ruins (os amigos me recomendam altos lances culturais e eu ali, vendo série de assassinos seriais e febeinhos e quejandos). Tenho também pensado demais em você e me repreendido por isso, muito mesmo. Por outro lado, por mais paradoxal que pareça, venho tendo algum sucesso em não pensar em você. Ás vezes, passam-se dois, três dias sem que você, seu rosto, sua voz, sua graça, me venham à mente.
*
A minha geração, além de pensar que vai viver até os cento e quarenta e nove anos – então, tudo bem, se aos cinquenta e tantos ainda não comecei meu livro – não vê a si mesma como parte do grupo de risco nessa pandemia. Somos imortais, inatingíveis e extremamente burros. É o que posso depreender.
*
Estranho demais quem diz que estamos vivendo sem um governo central, que somos uma país largado. Temos, sim, um governo central, que atrapalha para cacete, que deseja que a gente morra, que odeia cada um de nós.
*
Ocorreu-me essa semana que, em estando vacinada e zerada, lá pelo fim do ano, devo fazer um bate-e-volta ao Rio, envolvendo um total de zero conhecidos cariocas no projeto, para visitar a Casa Rui Barbosa, antes que os crentes detonem de vez com ela.
*
O Tiago Cordeiro, nosso próximo autor a ser lançado, deu uma entrevista deliciosa sobre seu livro. Vale, de verdade.
*
Tenho uma editora. Nem falo em voz alta, parece mentira. Mas é isso. Uma editora.
*
Cheiro de café. Que delícia de vida.
*
Queijo gorgonzola é a resposta. Qual foi a pergunta?
*
Sinto sono, fome e raiva vinte e quatro horas por dia, o que deixa pouco espaço para outros sentimentos.
*
Tenho três anáguas novas. Vem, vacina.
“Sinto sono, fome e raiva vinte e quatro horas por dia”. Eu. Daí durmo pouco e mal. Não tenho vontade de comer nada que tem em casa ou que eu quer faça, mas também não tem nada bom pra pedir (nem dinheiro pois dezembro). E não deixam eu espancar o presidente (nem sei se saberia como, sou muito ruim nisso de violência física, mas tentaria com afinco).
Amor, vc e eu somos a mesma pessoa.
“Ocorreu-me essa semana que, em estando vacinada e zerada, lá pelo fim do ano, devo fazer um bate-e-volta ao Rio, envolvendo um total de zero conhecidos cariocas no projeto, para visitar a Casa Rui Barbosa, antes que os crentes detonem de vez com ela.”
(Ainda bem que não sou seu conhecido e sim amigo. Ainda bem.)
Eu jamais te incomodaria com isso.
Mas eu quero ir à Casa de Rui Barbosa contigo, antes que a casa e eu acabemos, por favor, por favor, por favor!
Haveremos de ir um dia.