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As coisas que Lessing e eu temos em comum ou ele nunca me ligou de madrugada para dizer que me amava

Lessing sabia disso muito bem: você deve comer enquanto lê. Enquanto seus olhos absorvem as palavras, sua boca deve absorver calorias. Ela que dizia, não eu. Eu só obedeço.

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Comprei novas tigelas de tomar café com leite. São enormes e coloridas e lindas e foram tão baratas que dá até vergonha. Talvez tenham sido feitas nalguma biboca desse mundo, por mãos mal pagas e infelizes, quem sabe menores de idade. Mas vou dizer: são lindas.

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Tomo café com leite em tigelas desde que me entendo por gente, mesmo antes de saber que parte dos franceses faz isso. Mesmo antes de saber que a França existia, acho. É que realmente nunca me ocorreu forma melhor de tomar café com leite. Canecas são legais, xícaras são lindas, mas tigelas são… confortáveis. Você ocupa suas duas mãos, o que é o ideal. Vê um lago – não um poço – e o cheiro e o vapor, quando se aproxima a tigela da boca, envolvem todo o seu rosto, o que faz parecer que você está sempre em casa, ainda que você não vá para lá há mais de trinta e cinco anos, como é o meu caso.

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Será que a Lessing tomava café com leite em tigelas?

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Não sei no que pocha seus nuggets você, querido leitor, mas o meu, pocho num molho de pera e nozes. Ser filha da minha mãe é deveras agradável, devo confessar.

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Antes dou depois do Acordo (dos vários, vários Acordos), as regras para uso de hífen são de sentar e chorar. Português é para os fortes de caráter.

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“Fal, você fez o bolo da Telinha?”

“Não”

Isso nunca acontece, diz a pessoa. Daí cê diz, tá bão, mas aconteceu comigo. Daí o cara diz, não, não pode ter acontecido com você, isso nunca acontece. Daí cê diz, então, mas comigo aconteceu. Daí a sequência é a pessoa, na defensiva (do que, meu caralho consagrado, a história é SUA, não dela, é só não se meter e calar a boca), desqualificando você, ou sua memória, ou seu conceito de verdade ou o profissional que atendeu você na situação ou as pessoas envolvidas com você na situação, ou atacando você com toda gentileza que a passividade-agressiva dela permite pela grana que você não tem, ou… Juro, gente, pra quê? O cara diz, aconteceu comigo, você, que não sabe tudo, não vive a vida do cara, não está sob as mesmas circunstâncias que o cara, na casa do cara, na pele do cara, responde, que merda, amigo, sinto muito, como posso te ajudar? Olha que mundo lindo e ao seu alcance. De nada.

4 comentários em “As coisas que Lessing e eu temos em comum ou ele nunca me ligou de madrugada para dizer que me amava”

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