Os romanos prenderam Jesus e o levaram para a casa do sumo sacerdote, autoridade local com poder de custódia. Pedro seguia de longe.
Havendo fogo aceso no meio do pátio e estando todos sentados, Pedro sentou-se entre eles.
Uma criada passando viu Pedro e disse:
– Você era um dos que sempre estavam com Jesus.
– Não sei de onde você tirou isso, mulher. Eu nunca o vi na vida!
Mas outro, sentado à sua frente, retrucou:
– É sim, te vi um dia num barco com ele, é você mesmo!
– Meu rosto é comum, todo mundo acha que pareço alguém!
Uma hora mais tarde, outro lhe aponta:
– Conheço tuas fuça! Tu também andava com o galileu!
Pedro saiu bufando:
– Já falei que não o conheço!
Nesse momento Pedro ouviu o galo cantar e pôs-se a chorar.
Todos fizeram silêncio em respeito ao cara que, afinal, perdera o amigo.
O que não podiam saber era o tamanho do desgosto que habitava aquele coração.
Pedro levantou-se e caminhou em direção à sua casa onde lhe esperava sua mulher, que há muito não via e sua sogra, aquela que há anos tivera a bem-aventurança de ver esticadinha no caixão, pronta pra descer à cova e Jesus teve a PACHORRA de ressuscitar numa tarde de quarta-feira. Nem chovia.
Por certo fruto da bebedeira nas bodas de Caná ou querendo fazer uma graça, não importa. Ressuscitou a velha, numa época em que as mulheres viviam mais de cem anos.
O pior era que, agora, com a morte do amigo, acabara a desculpa pra não voltar pra casa.
Sua figura, vista de costas, caminhando cabisbaixo, ombros caídos, era a imagem da derrota. Acabara os desvarios da mocidade. Agora era fazer a barba, vender a harpa e arrumar um emprego. A velha não ia deixar barato.
Ah, Jesus, te negar foi pouco. Eu devia era ter chegado primeiro nas trinta moedas!
Lucas 22:54-62