Uma vez eu me despedi do maior amigo que já tive na vida.Era uma sala, não, era uma espécie de vestíbulo, todo verde.Eu, no pé da escada, a madeira pintada de branco, minha calça de linho cor de abóbora; ele a alguns passos de mim. Foi um ou dois dias antes do avião; aquela cidade era o centro do mundo; aquela dor era o meu peito; ele estava noivo e usando uma camiseta cinzenta; eu, sem rumo e de sapatos azuis; ele vinha partindo meu coração há mais de uma década, partindo meu coração, partindo meu coração, partindo meu coração, estilhaçando meu coração.Ele me disse alguma coisa, eu disse blablablá, ele virou as costas e saiu dando passos largos, e quando vi a nuca dele, meio cor de rosa, meio creme, o cabelo alourado, raspado, encontrando a pele fininha, soube que nunca mais ia vê-lo. Naquela hora, naquele exato momento, eu disse a mim mesma, disse, disse, disse, disse, disse, disse, disse, eu disse: “Nunca mais vamos nos ver”.Pelas décadas seguintes nos encontramos algumas vezes, um trampo aqui, um esbarrão em um café ali.Mas nunca mais vi meu amigo, meu amigo nunca mais me viu.E da longa, muito mesmo, lista de homens que não me quiseram, ele é o retrato pendurado na parede, tantos anos, tantos anos, tantos anos.