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Os velhos maestros, What a feeling, um novo canal jornalístico, um isqueiro cor de abóbora e o gato de Curitiba

Fui pra rua hoje e comprei dos meus mentolados (aqueles que se fumam sozinhos), um isqueiro cor de abóbora, soda e chiclés. Tipo, eu tento ser adulta, mas daí passo por um seven-eleven e minha força de vontade e minha concentração vão pro espaço sideral.

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Daí voltei e, em vez de trabalhar, fiquei desenhando florinhas coloridas e pintando em volta de amarelo.

De novo, olá mundo dos adultos.

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A vida é assim. Quando você acha que já viu de tudo, ela vem e senta na sua cabeça.

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Alguém me diz que se encontrou com você. Tempo houve em minha vida em que eu me encontrava com você. Fiquei com inveja, mas passou rápido quando me lembrei do resto.

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O bobo-alegre do canal jornalístico que vocês adoram, ele desembesta a falar absurdos por dá cá aquela palha. “A economia se reaquece”, zurrava ele hoje, “o Brasil está melhorando: a economia se reaquece”. “E olha que Jesus maravilhoso, amigos, existe um breguetis chamado redisrânters, que legal, tudo vai acabar bem!”. Isso devia de dar cadeia.

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Tem muita coisa boa em trabalhar com o Candido, mas uma das melhores é que as reuniões com ele nunca duram mais de trinta minutos. Todas as empresas do mundo, estatais ou não, deviam ter um cara assim no quadro de diretores, só pra manter as reuniões honestas e limpinhas.

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Comprar caderno quadriculado pela interneta devia ser profissão. Poucas coisas deixam um caboclo mais feliz do que entrar no site da papelaria e clicar “colocar no carrinho”.

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Vou para Curitiba em junho. Para dar aula? Para fazer contatos? Para ver certo alguém especial? Não, pra comer das quentinhas da dona Terezinha. Sou uma pessoa de nobres ideais, minhas prioridades estão onde deveriam estar.

(baideuai, meu único certo alguém especial em Curitiba é Djanguinho, o gatinho buzuzu da Suzi, antes que vocês comecem com onda)

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Uns chilenos decentes, uns italianos de grande dignidade, uns portugueses que se pode apresentar pra nossa mãe (e eu tenho feito isso, porque não adianta eu tomar vinho sozinha). De quando em vez, caio na esparrela dum rosé que mais parece uma grapete, mas, no geral, tenho me saído bem. E minhas bochechas estão vermelhinhas.

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O chiclé que comprei é de “tangerina com laranja”, E minha mãe comenta “Um dia, essa sua busca pela vitamina C perdida precisa acabar”.

Herege.

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Um dos principais motivos pra amar Grimm é que, nessa série, o Lobo Mau dirige um Fusca.

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Apaguei um monte de posts da pasta “rascunhos”, coisas que, sem você, não fazem sentido algum.

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Brigadeiro fica bão até com leite condensado de quinta. Oh, Glória.

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O looping da música ruim no Youtube é uma maldição bíblica. Assobiadores venezuelanos de guarânia, tambores escoceses, cantores de casamento dalgum lugar não identificado do leste europeu cantando no que, nalgum mundo paralelo, deve ser italiano, velhas tias obesas assassinando Mendelssohn em pianos equivocados, a trilha de Flashdance tocada num serrote, criancinhas mal orientadas tratando seus violinos como vivente nenhum desse mundo merece ser tratado. É um mundo, um universo, você é enredada naquela miséria, um vídeo horrendo leva a outro, duas e meia da manhã e um cara toca Imaginenum xilofone enquanto você chora.

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Cês tão uns amorecos falando em religião boazinha e religião mazinha. Beijo no coração de todinhos voceizinhos.

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O canal que cêis amam não crê em pesquisa se o assunto é moda. A matéria que vi sobre Givenchy tava constrangedora num ponto que pelamor (não sei se teve outras, não tenho condições de ver mais de uns poucos minutos daquilo nem pela minha mãe, que tanto amo). Tudo raso, tudo lugar comum, tudo nada, tudo desinformativo, tudo chato, tudo precário.

Moda ainda é considerado um assunto “menor”, né? É o que, “coisinha de mulher”? Dane-se a história que também pode ser contada por cada agulha feita de osso de foca, cada couro curtido, cada alinhavo, cada decisão sobre formato, peso, fabricação de tecido a partir de plantas (que sacada, que salto), invenção do tear manual, a moda como agente de transformação social, a moda como estagnador de classes, estampas, a história das nossas tantas escolhas ruins alterando a largura das mangas, formato dos saltos, rituais e manifestações definindo o que usávamos e sendo definidos pelo que vestíamos, os séculos passando, nós e os nossos usando as roupas para calar as mulheres, para deixá-las sem respirar, para embalar revoluções, o capitalismo e sua história tão recente bem costuradinho com a moda, moda popular, moda elitista, fast-moda, alta costura, o cinema e o que usamos do lado e cá e do lado de lá da tela, moda, moda, moda. Bobagem mesmo. Vamos passar meia dúzia de informações equivocadas sobre pretinhos básicos, emendar com uma resma de clichês bem batidos envolvendo o nome de umas divas e deixar para lá.

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Talvez devessem mudar o nome do canal pra Marcelolinsnews. Vinte de quatro horas SÓ o Lins e nós levaríamos lanche e aguinha pra ele aguentar. Quando ele tirasse uma sonequinha, dormiríamos todos. De vez em quando, apareceria aquele argentino pra fazer uns comentários bem bons. O Lins falaria lindamente sobre a morte do velho, sobre história da moda do século XX com suas maisons, seus maestros vetuscos, suas poucas mulheres como figuras de proa, sobre as idiossincrasias de uma arte que, como as outras, não se iludam, é mercado e é cultura e é dia a dia e é toda a marca história de nossas pegadas, essa nossa história que parece tão definitiva, mas não é.

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Bonitão, não me aborrece, na dúvida, inverta a frase. Sempre.

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Quebrei minha caneca do Bill Murray e a única caneca do Saturno que eu tinha e que ia pruma cliente. Ligo pra Suzi Márcia pra contar o que eu fiz e ela nem pisca. A pessoa sabe que eu sou uma abobrinha.

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Sabe quando o Chico fala em “qualquer desatenção”? Faça não.

Mas olha, faça não mesmo. É sério.

Primeiro semestre de 2018

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