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Menu dégustation: fevereiro e março

Coisas vistas & ouvidas & preparadas & assistidas & comidas & visitadas;mas não todas, não tudo, não todo o tempo.

A newsletter do Drops tá indo razoavelmente bem. Talvez eu consiga achar o tom. Umas poucas pessoas escrevem pra comentar depois de lerem, o que é muito gentil. O site da newsletter tem um mecanismo que me permite saber quem leu, quem clicou no linque, quem isso, quem aquilo, mas estou me comportando como uma freira e não mexo naquilo. Esse tipo de coisa só faz a gente descobrir que os amigos são só educados e não leem porra nenhuma na real e eu, além de não querer sofrer, não quero mesmo saber.

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Reescrevi um texto começado há muito, meu amigo Paulo copidescou, acho que agora vai; Brasil.

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Comecei outra escrevinhação; parei porque doentíssima; não recomecei ainda porque irresponsabilíssima; recomeçarei na outra semana porque divertido; divertido.

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A verdade é que eu ia reler o segundo volume dos diários da Sontag, acabei re-relendo o primeiro por motivos de: muito amor no coração.

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Vi, abracei e bebi com a amada @luciananepomuceno em março. Saudades; babe; saudades.

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Não vi o querido Gui em março. Ele vai embora pra Bélgica de novo porque o amor volta para lá. Queria odiar o Michael por me leva o Gui de tempos em tempos; mas né; quem odeia o Michael; gente? Ninguém. O amor nos exige flexibilidade na agenda e espaço no passaporte. Pelo menos no caso do Gui.

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 Vi, na Netflica, Retribution. Achei o começo meio nhenhenhé. E depois, uma chatura.

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Também na Netflix; para felicidade de minh’alma; a nova temporada nova de Z Nation; o melhor apocalipse zumbi que já foi feito. Vi todos os episódios num gole. Pelamor; que coisa tonta e divertida.

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Comecei a ler; bem no finzico de março; o Modernismo; do Peter Gay. Tem uns livros que você deve ler para aprender o que eles ensinam e para aprender o quanto você é burro e não sabe coisa alguma nesse mundo.

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Fiz uns dez, sem brincadeira, escondidinhos de carne-moída-de-soja (que é a carninha moída que Maliu-Naturebínea come). Ela tá na fissura desse trem e pediu direto.

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 Bebi vinho rosé como uma profissional. Meus familiares estão emocionados com meu esforço, minha superação.

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Tive uma gripe assustadora em fevereiro. Veja que não falo em resfriado, foi gripe. Mais de quarenta graus em várias fases, lábios gretados, dor, dor, dor, doía atrás dos olhos. Foi assustador, sabe, porque Marli também ficou muito doente, uma não conseguia cuidar da outra. Ficamos, cada uma em sua cama, passando por um inferno de quatro (!!) dias e mamando em caixas de suco de laranja (cara, e se não tivesse suco? Nunca mais vou deixar de comprar esse treco), até que conseguimos nos levantar, trocar lençóis, tomar banho, fazer sopa, café com leite, essas coisas banais. Ficamos aqui sozinhas, muito, muito doentes. Um amigo disse que foi treinamento pro apocalipse zumbi. É muito assustador estar tão doente que não se consegue ir ao médico.

Quando eu já estava melhor a ponto de usar as redes, contei pra Telinha que, lá do Rio, deu um jeito de virem entregar sopa aqui. Que amor, que amor.

Demorô muito para ficarmos boas.

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Nosso querido gatão cinza-cabeçudo teve câncer e morreu nessa temporada. Olha; muita tristeza; tristeza demais.

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Assisti Familienfieber. Adorei.

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Assisti  Blue JayRuth & Alex e  Learning to Drive e chorei que nem uma paca. Aliás, outra particularidade sobre fevereiro: chorei, chorei, chorei.

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Assisti um documentário incrível, Dries, sobre o costureiro belga Dries Van Noten. O documentário dá muita ênfase ao processo criativo dele. Como o cara começa, monta, estrutura e lança uma coleção. Sou completamente maníaca por esse assunto. Adoro o setor fofoca de qualquer documentário: quem é casado com quem, quem dá em cima de que modelo, como são espalhados os anéis de prata da pessoa sobre todos os móveis da casa e como são empilhadas as revistas (tou falando daquele sensacional documentário do Lagerfeld que, aliás, vou rever), mas minha fraqueza é o processo. Como o cara tem as ideias, como escolhe, como decide, que caminhos o cérebro dele percorre a casa decisão, antes, a cada momento anterior de cada decisão.

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Outro documentário; sobre casas enormes e raras e caras e exóticas. Poucos episódios; produção linda; curti mais ou menos.

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Oscar, né? 

Eu me preparei lindamente, vi quase tudo, aprendi sobre quem ia vestindo o que e tal, e daí um dia antes da cerimônia; a árvore aqui da frente de casa caiu, levando todos os fios do mundo e o jipe do meu irmão. Sem Oscar, aliás, sem luz; sem telefone; sem internet por três dias.

Gostei de muito do que vi. Gostei imenso (oi; Claudio Luiz) do filme do Churchill; mas achei sinceramente inferior ao sensacional Into the storm.

Gostei do A trama fantasma. Gostei da piração do relacionamento deles; mas a vida fica me devendo um filme sobre criação de moda. Eu queria mesmo era um filme; uma ficção; que mostrasse mais e mais detalhes da criação; sabe; do processo. Fiquei meio fuéééén com A trama; decepcionadinha com a falta de detalhes e do cotidiano; da oficina da criação; dos croquis; da busca de tecidos e tal. Seguindo meu próprio conselho; se tou de mimimi; eu que devia escrever uma história assim; eu sei; não é isso que tou sempre dizendo? “Não reclame de quem faz; faça o seu”. Pois é.

A forma da água. Quase ninguém gostou desse filme; né; e eu lamento demais por vocês; seus chatos. Que mais cês querem de uma história de amor? A forma é um conto de fadas; só. Sem efeitos especiais; sem elucubrações; sem tralha. Ilógico e irresponsável; como toda história de amor é ou deveria ser. “Mas ela comeu meia dúzia de ovos cozidos com o lagartão da Amazônia e já fugiu com ele; porra?”. É; teve uma que comeu maça envenenada; teve uma que jogou as tranças; teve aquela outra que foi beijada e acordou… Então temos essa daí; que dançou e comeu ovo cozido e sentiu uma coceira no pescoço e se jogou num mundo novo e estranho e assustador com o lagartão. A forma tem isso: é paixão instantânea, sem conversa, os minúsculos detalhes, a fraqueza no joelho, o entregar do seu mundo pro outro, achei o filme uma metáfora pra paixão. Sabe, aquela “vamos lá agora”, que a gente nem sabe se tem futuro, se dá liga, se ele não vai implicar com o nosso cachorro mimado, com o fato da nossa mãe falar demais, com nossa incapacidade de manter a vida nos trilhos, sei lá. De novo, isso me atraiu: o conto de fadas. Como saber, depois de um olhar rápido pra moça adormecida; se vai dar certo? A gente não sabe, mas salva a princesa, mata a bruxa e é feliz para sempre, na velocidade dum livrinho de capa dura coleção “para todas as crianças”, o que, umas vinte, vinte e cinco páginas (com bastante ilustração). 

Cês deixem de ser chatos e beijem mais.

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Re-re-re-re-revi Tudo Bem no Ano Que Vem (Same Time, Next Year), um lindo filme de 1978. Porra; lindo; já que falamos de contos de fadas. Que filme. O Alan Alda pisoteia no coração da gente; isso se a Ellen Burstyn não nos matar antes de amor. Corre ver lá na Netflix; monstro da chatura.

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Munido de toda força de vontade do mundo e com coragem pra malhar que nem um loco, ou bombado até os canos, não sei, o menino do The Killing me reaparece aqui praticamente do tamanho dum carro, numa série chamada Altered Carbon. Eu adorei; que minha vida é ver esses trens trash. Tem aquele diliça que em Roma (se você não viu; vale; só duas tempôs curtinhas uma vida de diversão) se besunta de azeite; como chama essa cliatula?

A Carla @riendetout me deu o livro; vou ler esse mês.

Março acabou com geral me mandando boicotar a Netflix. Amo vocês caras; mas não tenho dinheiro pra pagar tevê a cabo; menos ainda pra ir ao cinema; ninguém gosta de mim; então não sou convidada pra na-da e minha vida social é zero. De modos que Netflix é; tipo; tudo que eu faço nessa existência. Sinto muito; mas fica pra próxima.

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Março também acabou com meu computador indo pro beleléu e comigo presa três horas num carro no meio duma chuva alucinante. São Paulo parada e eu querendo morrer. Não tenho grana pra ir morar em qualquer outro lugar; se tivesse; iria. Vocês que têm grana e ficam nessa merda de cidade me assombram. Que caralhas vocês tão fazendo aqui? Dinheiro mal gasto é a coisa que mais me deprime na vida. Cês não sabem viajar e não sabem viver.

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O calor que; a partir do fim de março; deveria nos dar uma folga; segue bombando e me enlouquecendo. Que inferno.

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Li uma sensacional biografia do Carlos Magno escrita por Jean Favier. Sensacional; um livrão.

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Li o Rumor da língua; do Barthes. Por falar sobre livros que destacam nossa ignorância.

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Vi Colateral. Adorei porque é pá-pum tem o crime; investiga o crime; resolve o crime; sem drama pessoal; irmã alcoólatra; traumas de infância; DRs com o pai do bebê; filhos problemáticos; dores d’alma. Resolve essa porra de crime e vamos para o próximo. Como nos ensinou Poirot.

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Comecei uma série nova com a Kyra-alguma-coisa-pintinha-debaixo-do-olho; mas parei porque sei lá. Vou retomar em abril.

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Garrei num imenso amor por jardinagem; se é que se pode chamar de “jardinagem” o que fazemos nessa minha casa sem quintal; né. Plantas e suas mumunhas; como crescem; do que precisam; “essa água tem cloro demais?”; “ela precisa de sombrinha?”. Acho que faz parte do processo de envelhecimento gostar das plantinhas sem que elas estejam em nosso prato cobertas de molho de mostarda com mel.

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Outro amor que garrei foi no Rex Stout e no Nero Wolfe. Gente; por falar em crimes sensacionais. Li Serpente; Clientes demais e Cozinheros demais.

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Dois alunos de redação pararam de ter aula comigo em fevereiro-março. Os dois sem emprego nessa nova fase do Brasil onde está tudo bem e a economia está se recuperando lindamente. Nem sei mais o que dizer.

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Reli muita Katherine Mansfield em fevereiro. Saudade dela e da fase da minha vida em que a descobri.

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Comecei a ler O império do efêmero. Que livro.

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O cara é casado, tem trocentos filhos e vai lá e me dá uma entrevista toda séria e com ares de especialista, de guru, sobre como é maravilhosa a solidão. Entrevista aplaudida e divulgada pela contentinha profissional que mora com pai, mãe, irmã e cachorro. Gente, não sabe brincar, não desce pro parquinho. E nem começa você a me dizer que “pode-se estar só em meio à multidão”. Ah, claro que “pode-se”, tovarisch, claro. Mas nem vem que não tem.

Solidão é estar tão doente que se desmaia na frente do fogão com a canja fervendo; é acordar muito tempo depois, sopa seca na panela, gata e cão em cima porque não tinha ninguém por você ali, nem naquele momento e nem em qualquer outro. Não glamouriza a solidão, gente, é uma miséria. “Adoro estar comigo mesmo” é uma fofura, mas só até seu crânio ir de encontro à cerâmica do chão da cozinha e você acordar sozinha; com um galo gigantesco e metade do rosto inchado; sem ninguém que te acordasse; acudisse; soprasse seu rosto depois; durante a sua imensa crise de choro no sofá. Absolutamente sozinha.

Essa gripe do começo de fevereiro me ensinou como eu sou sozinha nesse mundo e como eu estou fodida. Fodida.

Fevereiro&Março de 2018

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