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Quanto Vale Minas?

por Suzi Márcia Castelani

As montanhas de Minas guardam riquezas imemoriais

A mineração faz parte de sua história desde que aventureiros se embrenhavam em trilhas portando bateias e carumbés. Mas mesmo estes não mineravam para o seu bem viver, tão somente. O Estado já lá estava a controlar o garimpo e exigir seu quinhão.

Os minérios retirados das montanhas fizeram a fortuna de muitos e a desgraça de muitos milhares. O propósito de retirar a riqueza do chão custa um preço. Esse custo já foi pago em servidão, sangue e derrama. Quando o mundo se comunicava por mar, o ouro saqueado de Minas abarrotou naus em caravanas cujo destino cumpria sonhos de glória e conquistas europeias.

Em 1942, Getúlio Vargas criou em Minas a estatal Companhia Vale do Rio Doce a partir de uma mineradora, já existente e que, tal qual o poeta, nascera em Itabira. As décadas seguintes foram dedicadas à modernização e conquista de mercados.

Em 1997, a empresa foi privatizada e a partir daí adquiriu e se associou a muitas outras empresas, tornando gigante o negócio. Nessa época, também, tirou o Rio Doce do nome, passando a se chamar apenas Vale.

Os números da Vale são impressionantes. Termos como diversificação e ampliação do escopo de trabalho, capacidade operacional e mentorias de empreendimento convivem com operações em destinos tão distantes como China e Omã.

Mas a origem de sua riqueza continua sendo a mesma dos tempos do Brasil colônia. A sua faina ainda se resume a retirar do solo o minério que será vendido como matéria-prima para que outros mercados o transformem.

Mas para que seja economicamente viável foi preciso ampliar a escala. Os rejeitos da mineração em gigantesca escala são acomodados em forma de barragens onde o nível da segurança é medido na proporção do lucro.

A interdependência econômica gerada pelas parcerias locais perpetua a perversidade do sistema.

Para a Vale, a riqueza está no subsolo. Tudo que há por cima dele, se destruído, pode ter seus efeitos mitigados em acordos, longas demandas e multas jamais pagas.

Minas está onde sempre esteve. Mariana e Brumadinho também. A lama que destruiu casas, rios, centenas de vidas e viveres também faz parte do seu chão.

A riqueza do subsolo é finita. Um dia deixará de ser um bom negócio. Quando isso acontecer, o que terá restado de Minas para além de sua paisagem? Mais que isso, quem pagará o preço do que então não haverá? E quem honrará os que se foram sem receber?

Suzi Márcia Castelani é artesã, editora e dona do seu quintal.

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