As Valquírias
Para os nórdicos, o mais belo ato de uma pessoa era entregar a vida na defesa do seu povo.
Odim, o deus maior lá deles, resolve que os bravos rapazes da armada dos godos, visigodos, viquingues et als, mereciam ascender a Asgard de forma especial.
Gera então as Valquírias, suas filhas diletas, muito amadas, para a tarefa gloriosa de buscar os heróis mortos no campo de batalha e levá-los ao eterno banquete, oferecido no Valhala, um bufê aos pés da Yigdrasil, árvore sagrada que iniciou o mundo do eterno retorno.
As Valquírias eram muito numerosas, nasceram todas ao mesmo tempo, eram diferentes umas das outras na aparência e no caráter, e sua função era nobilíssima.
Deviam ser valentes, porque a travessia era longa e perigosa, descendo do infinito numa velocidade estonteante, perigando cair num abismo formidável.
Deviam ser gentis, ora, o gajo mal tinha acabado de morrer, tendo sofrido ferimentos bem dolorosos, extensos e profundos e naquele tempo não tinha paracetamol.
Deviam ser resistentes porque o vento norte é famoso por ser geladíssimo e cortante,
machucando bastante a pele fininha das moças.
Deviam ser piedosas, pois os moços estavam deixando para sempre tudo o que amavam, tudo o que conheciam, famílias, amigos, pátria, coisinhas, paninhos.
Deviam ser fortes para erguer e carregar aqueles galalaus altos, musculosíssimos, que ainda envergavam suas traquitanas de guerra.
Deviam ser puras, pensamentos elevados e joelhos travados, porque se não se mantivessem assim, seria um bocado difícil resistir a tão bravos guerreiros.
Se a mais honrosa forma de morrer era lutando, as Valquírias deviam estar à altura da tarefa de conduzir os ilustres mancebos ao seu destino, havendo de ser, elas próprias, nobres no corpo e na alma, com bela postura e bela gestualidade, era o rosto delas que os heróis veriam assim que fechassem os olhos.
Então inté, Jacaré!
Marli Tolosa, psicóloga e pesquisadora