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A canção da borboleta ausente

R$22,00

A expressão grega que serve de epígrafe ao livro é a inscrição que a tradição coloca sobre uma certa maçã de ouro, roubada do Jardim das Hesperides. A deusa Eris, Discordia para o romanos, atira essa maçã sobre a mesa de um banquete dos deuses para o qual não havia sido convidada. Na pele dourada da fruta, a perdição dos troianos: “τῇ καλλίστῃ”. Tē kallistē. À mais bela.
Se você não sabe quem é Eris pode até pensar em devaneios de amor romântico, paixões adolescentes e imagens de sonho.
Latim ajuda aqui: “Timeo Danaos et dona ferentes”. Cuidado com gregos trazendo presentes – isso vale tanto para o desfecho quanto para a introdução da Ilíada. Aquele banquete mencionado ali, após o desafio de Eris, termina com Paris, príncipe de Tróia, tendo escolher quem era a mais bela das deusas, dentre Hera, Atenas e Afrodite. A escolher entre se tornar o rei de todas terras conhecidas ou o mais sábio e hábil guerreiro ou possuir a mais bela mulher do mundo. Ele escolhe Afrodite, escolhe a mulher, escolhe Helena, escolhe uma década de guerra, ao fim da qual Tróia arderia em chamas.
Eu mencionei Pessoa em outro lugar, não? Cautela então.
Eris é uma Malévola arcaica – nós não a convidamos para a festa porque ela nos dá arrepios, nos causa incômodo, nos amedronta. Nós, no caso, gregos, – mas apesar do Brasil não ser exatamente no Ocidente, quando o Ocidente e suas periferias deixaram de ser gregos? E essa discórdia antiga era simples demais, como aliás os gregos da Ilíada.
Falta de educação para com uma deusa tem lá seus inconvenientes, apenas um deles dez anos de guerra do outro lado do mar.
Eris é filha do Nada, deusa do caos, fonte de criação. Nas palavras da deusa mesma, como compiladas por Malaclypse The Younger em Principia Discordia: “Eu sou o caos. Eu sou a substância a partir da qual vocês artistas e cientistas constroem ritmos. Eu sou o espírito com o qual suas crianças e palhaços riem em uma feliz anarquia. Eu sou o caos, e eu digo a vocês que vocês são livres.”
Eris não é simples, nem má, não guarda ódio. Mas sua complexidade pode muitas vezes ser confundida com malícia, e sua impaciência por vezes a faz terrível.
Cuidado então, com deusas trazendo ironias, gregos trazendo presentes e com a poesia.
Cuidado, principalmente, com a poesia.

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A expressão grega que serve de epígrafe ao livro é a inscrição que a tradição coloca sobre uma certa maçã de ouro, roubada do Jardim das Hesperides. A deusa Eris, Discordia para o romanos, atira essa maçã sobre a mesa de um banquete dos deuses para o qual não havia sido convidada. Na pele dourada da fruta, a perdição dos troianos: “τῇ καλλίστῃ”. Tē kallistē. À mais bela.
Se você não sabe quem é Eris pode até pensar em devaneios de amor romântico, paixões adolescentes e imagens de sonho.
Latim ajuda aqui: “Timeo Danaos et dona ferentes”. Cuidado com gregos trazendo presentes – isso vale tanto para o desfecho quanto para a introdução da Ilíada. Aquele banquete mencionado ali, após o desafio de Eris, termina com Paris, príncipe de Tróia, tendo escolher quem era a mais bela das deusas, dentre Hera, Atenas e Afrodite. A escolher entre se tornar o rei de todas terras conhecidas ou o mais sábio e hábil guerreiro ou possuir a mais bela mulher do mundo. Ele escolhe Afrodite, escolhe a mulher, escolhe Helena, escolhe uma década de guerra, ao fim da qual Tróia arderia em chamas.
Eu mencionei Pessoa em outro lugar, não? Cautela então.
Eris é uma Malévola arcaica – nós não a convidamos para a festa porque ela nos dá arrepios, nos causa incômodo, nos amedronta. Nós, no caso, gregos, – mas apesar do Brasil não ser exatamente no Ocidente, quando o Ocidente e suas periferias deixaram de ser gregos? E essa discórdia antiga era simples demais, como aliás os gregos da Ilíada.
Falta de educação para com uma deusa tem lá seus inconvenientes, apenas um deles dez anos de guerra do outro lado do mar.
Eris é filha do Nada, deusa do caos, fonte de criação. Nas palavras da deusa mesma, como compiladas por Malaclypse The Younger em Principia Discordia: “Eu sou o caos. Eu sou a substância a partir da qual vocês artistas e cientistas constroem ritmos. Eu sou o espírito com o qual suas crianças e palhaços riem em uma feliz anarquia. Eu sou o caos, e eu digo a vocês que vocês são livres.”
Eris não é simples, nem má, não guarda ódio. Mas sua complexidade pode muitas vezes ser confundida com malícia, e sua impaciência por vezes a faz terrível.
Cuidado então, com deusas trazendo ironias, gregos trazendo presentes e com a poesia.
Cuidado, principalmente, com a poesia.

Peso 0,200 kg
Dimensões 18 × 12 × 1 cm

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