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Hi, Maria Núbia

por Andréa Pontes

A gente se segura como pode (foto de Andréa Pontes)

É o carro do ovo passando pela sua casa batido, porque o custo aumentou 22,93% nos últimos 12 meses, de acordo com o IBGE. Em contrapartida, o preço da carne e do frango estão caindo. No meio do caminho, estamos todos equilibrando pratos, literalmente, para comer. O Governo anunciou o Desenrola, porque, aquela conta de luz – quem se lembra da bandeira vermelha, colocando o valor longe do alcance dos nossos bolsos? -, aquela parcela que parecia ínfima, ficaram complicadas de serem pagas. E colocaram milhares de brasileiros no Serasa. Sem crédito, sem consumo. E a economia sobrevive com isso – confiança do consumidor de que pode comprar.  Que aguarda, ansiosamente, pela redução do gás natural pela Petrobras.

Temos o varejo às voltas com a Barbie. Afinal, precisamos de um mundo mais cor-de-rosa. Essa indústria – que começou vendendo uma boneca a U$ 3 que hoje custa no mínimo R$ 50 – espera dobrar o faturamento e alcançar um resultado global de US$ 900 milhões com o filme de estreia mundial. Há quem aposte que Barbie concorrerá em algumas categorias do Oscar. Nesse momento, dos grandes varejistas ao empreendedor da periferia que vende bolo de pote – todos, sem exceção, estão buscando a Barbie como parceria para alavancar as vendas.

Se você está procurando algo fictício para se distrair, aviso que a vida real oferece mais opções. Afinal, uma thread no Twitter de um viúvo, homem de boa reputação, às voltas com uma amante e a esposa, que morreu vítima de doença rara. Aos desavisados, não se trata do mais recente capítulo da novela das nove. É vida real. De fazer conhecidos fofoqueiros ficarem boquiabertos. Também de nos fazer lembrar de causos do nosso dia a dia. Posso confidenciar um – ontem eu fui capaz de lavar a mesma roupa por três vezes, contrariando as normas cultas da ESG – Environmental, Social and Governance (Meio Ambiente, Social e Governança). Desperdício de água porque os neurônios estavam desperdiçados, envoltos nos BOs do dia – sempre temos um para chamar de nosso. Nessa hora, a gente só reza para o dia terminar bem. Esquece de orar pela noite e se dá mal. Acorda com aquela indisposição e aí reza para o dia seguir bem. Ele segue, amém.

Vai começar a Copa do Mundo de Futebol Feminino. Deparo-me com a história da Maria Núbia. Um dia, ela sonhou em ser árbitra. Saiu do Maranhão e veio para São Paulo. Para sobreviver e pagar o curso, trabalhava como garçonete. Certo mês, o dinheiro terminou antes. Maria Núbia, então, vendeu tudo o que tinha em casa – só restou o colchão e um travesseiro. Naquela noite, Maria Núbia chorou. Mas, os 800 reais que faltavam para pagar as dívidas a fizeram prosseguir. Maria Núbia chegou lá. Apareceu na tevê, em rede nacional, apitando Santos x Palmeiras. Hoje, ela apita os jogos da várzea – onde a verdade do futebol brasileiro nasce. Por mais Marias, Núbias, Martas, Formigas, Debinhas e tantas outras que sonham em ocupar o lugar que merecem nos campos de futebol. E as que estão fora das quatro linhas também. Da vida real para o sonho rosa choque.

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