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As surpresas óbvias

por Andréa Pontes

Presentes queridos, quero morar nesse livro. Quando crescer, vou ser um milésimo de Alberto Manguel e serei feliz. (foto de A.P.)

A grande notícia foi o IPCA – o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, que registrou alta de 0,23% no mês de agosto. Chegamos a 4,61% em 12 meses. Para surpresa do mercado, foi abaixo do previsto. O mercado apostava em uma alta maior do que a registrada. A surpresa veio da área de serviços, que mostrou índices de inflação controlados.

Mas, afinal, o que significa IPCA? E por que temos tantas vezes a palavra “surpresa”?

Bom, para medir o IPCA, são analisados produtos e serviços do varejo, os que são utilizados por mim, por você e uma média de brasileiros que ganha até 40 salários-mínimos. O que o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) faz é verificar a variação destes produtos naquele período que estão avaliando – no caso, o mês de agosto. É por isso que você vê matérias em que precisamente são apontados os “vilões” e os “mocinhos”.

A inflação de alimentos diminuiu em mais de 1 por cento. Ou seja, estamos (ufa) encontrando preços mais baratos no supermercado. Já a inflação em habitação aumentou em 1,11%. O motivo: acabou o desconto e a energia elétrica aumentou em 4,59%. Então, sua conta de luz vai vir com valor maior. No entanto, a alta de agosto não é tão alta conforme esperado. Com isso, o Banco Central, que tem a missão de garantir que a economia siga regras sólidas e confiáveis, deve seguir baixando a taxa Selic. Os juros ficarão mais baixos, o consumido mais confiante. Talvez, aquela viagem que você tanto adiava, no final do ano, possa sair.

Made in Índia

Mais uma matéria excelente sobre a Índia, da Renata Ribeiro, do Jornal Nacional. Fique de olho nessa moça. Ela (leia-se: ela, produtor, editor – é time, gente, e muita apuração, quem vê o glamour dos 60 segundos não vê as horas de trabalheira) é boa em descomplicar a economia. Uma obrigação do jornalismo, o que dirá para o telejornal com maior audiência no Brasil.

Pois bem, a Índia vai além da novela da Glória Perez. As desigualdades sociais são do tamanho continental e da população – grandes. É o País que vem, nos últimos anos, apostando em tecnologia mais do que ninguém, mesmo que de forma concentrada. O Produto Interno Bruto foi de 7% – duas vezes maior que a China – o que já fazem as sobrancelhas do mercado se arquearem. Aliás, como bem disse o economista Enrico Cozzolino, sócio e chefe da Levante Investimentos, “a China não vai crescer dois dígitos todo ano”. Não deveria ser uma “surpresa”.

Ah, e o Brasil, o que tem a ver com isso? Muita coisa.

O Brasil tem muitas semelhanças com a maior democracia do Oriente. Brasileiros e indianos convivem, ao mesmo tempo, com ricos e pobres. Das pérolas à falta de saneamento básico. Ambos são de extensões territoriais grandes, os dois possuem recursos naturais. Sem falar nas populações. A Índia é o mais populoso país do mundo – 1,4 bilhão de pessoas (reparem que, em todo o planeta, somos 8 bilhões). O Brasil tem 214 milhões. Há uns sete Brasis dentro da Índia em quantidade de gente.

No entanto, nós exportamos alimentos. Já na Índia, são propriedades pequenas, pouca tecnologia (uma ironia, já que é o país que investe nisso), baixa produtividade. Exportam muito menos. O Brasil, não, já tem vantagem nisso e pode vir a ser um fornecedor para o mercado indiano. Sem falar que ambos, além do G-20 (as 20 maiores economias do mundo) sentam-se à mesma mesa no BRICS (mercado emergente – Brasil, Rússia, Índia e China e África do Sul).

O mercado é um emaranhado fascinante. Mas, não é para amadores. Além dos números, há muita política, são muitos os interesses. Então, não se assuste com o excesso de “surpresas” no texto. Vamos torcer para que o mercado se surpreenda cada vez mais.

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