Fazia muito tempo que eu não ficava tão tão doente. Se alguém me disser que ontem tomei uma surra com um pedaço de pau, eu acredito.
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Torceria pelo expressivo senador Alessandro Vieira ganhar a presidência desta vergonha de país porque ele não mexe um músculo do rosto para o que quer que seja.
Não modula a voz. Não me lembro bem, mas tenho a impressão de que ele sequer pisca.
Alessandro não ama, Alessandro não odeia.
Ele traria uma carga negativa de drama presse país, coisa que desesperadamente precisamos.
O porém é que é bolsonarista de primeira água e eu não acredito no arrependimento dessa gente.
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Sobrevive o sujeito capaz de encarar a dor alheia e mandar um vago: “Força aí”.
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Há alguns anos foi lançado um livro em francês que eu queria muito ler. Agora, sequer me lembro do nome do livro. Sem comentários. Mas enfim, eu quis o livro demais e comentei que, além do livro, queria alguém que lesse o livro para mim – meu francês segue o exemplo da minha boa educação e inexiste.
D. me escreveu dizendo leio esse livro para você e eu, além de bater as pestanas, fiquei me perguntando como, exatamente, poderia ser organizada essa logística.
Demorou uns três dias pra ficha cair.
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Minha única, realmente única, tristeza em não ter carro, é não poder ir para a praia na hora em que me der na veneta. Pelo menos não sem um bocado de trabalho.
Sinto falta da praia como se lá tivesse sido criada, coisa que absolutamente não é verdade.
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Desejo ardentemente a capacidade da Nepomuceno para escrever, antes ainda, para encontrar assunto. Ela pega um tópico, uma frase, um filme e simplesmente escreve.
Parágrafos.
Eu, que ainda estou tentando falar sobre o filme Logan, que vi muitos, muitos anos atrás, fico chapadíssima com esse superpoder.
Vi o filme, pirateei o filme, achei o filme incrível, tenho um bilhão de anotações.
Zero texto.
Zero ideia de por onde começar.
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Coisas para perguntar para a Suzi, parte 876499/B – fundos:
Existe um botão que, uma vez clicado, envia, tomaticamente, o linque dos trens postados aqui para o tuinto?
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A lista das cousas sobre as quais não quero falar ganhou mais um ítem: meu cabelo.
Estou sentadinha em um banco no calçadão vendo o mar, tão meu, tão outro. Esse mar gelado, indiferente, que me ignora, que me desconhece, escuro, distante – tão, tão distante – vai se fazendo uma metáfora tão perfeita do que não ouso nomear, do que espero, do que anseio, do que se nega, do que se esquiva, do que me faz de ioiô, que estremeço e visto casaquinho mesmo sabendo que o frio é na alma. Ali em frente um ruído do mar como um estalar displicente da língua. É isso, ninguém acredita, o mar deu de ombros, nada de mergulho pra mim.
<3
Eu escrevo muito de vez em quando; às vezes penso “mas por que eu escrevo ainda, nada de interessante, só minha vida, zero leitores”. Daí vejo você escrever sua vida e me encanto. Seus dias, seus pensamentos, sua impressão das coisas todas, seus comentários, tudo me encanta. (Estou conseguindo janelas de tempo entre o trabalho remunerado e o doméstico, e venho te ler pra dar um respiro.)
tão bão narrar os dias. não há salvação para além do registro, eu acho.