
Domingo-caderninho
Gata na prateleira, aguinha de laranja, um olho na Ana, outro na Suzi, série de zumbi-engaçadinho rolando na tevê, trabalhando. Existem domingos melhores, eu sei, mas já tive domingos bem piores. Bem mesmo.
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A paixão longa e sofrida é substituída por uma amizade sem graça e vã, do tipo em que o silêncio se faz não por excesso de intimidade, mas por total falta do que dizer. E qualquer comentário idiota, megalômano, babaca e descuidado faz você chorar até ficar sem respiração.
Não recomendo.
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Chuva, finalmente. O Brócolis não via chuva há muito tempo. Espero que esfrie, espero que melhore, espero que exista. Espero existir.
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Saber que existem opções. Talvez você não possa elegê-las, talvez não queira tomá-las, talvez nem lhe sirvam. Mas estão lá as opções. Fui lembrada disso agora à tarde, em meio a um trabalho insano. Há opções.
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Fui chama de “querida”, “amiga querida” e “querida amiga” na mesma semana. Evidentemente eu mereço.
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Durante a semana, tirei do lugar uma prateleira e seus respectivos livros, que não saíam dali há onze anos e pouco. Tudo bem, um livro ou outro de quando em vez sai dali e depois volta, mas não todos, não ao mesmo tempo. Um pó cinzento e espesso se gruda aos muitos panos molhados que foram necessários para limpá-la. Dez anos de poeira e poluição. O dia que essa prateleira foi posta no lugar, dois ou três dias antes de eu me mudar para cá, foi o dia em que arrumei ali meus livros. Minha vida tinha mudado enormemente e eu arrumei ali livros, um ao lado do outro, como se estivesse tudo tranquilo e eu soubesse exatamente o que fazia. A vida muda de novo agora e inda não sei o que estou fazendo.
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“Caso você se esqueça, olhe pela janela”, acaba de dizer minha amiga mais sábia.
Pizza fria, livros da agatha christie em sucessão vertiginosa, lavar os cabelos, mandar links para o filho que não responde porque, sensatamente, está vivendo a vida e curtindo o aniversário do pai. Tem muita coisa que eu queria ver: na tv, na netflix, pela janela, mas ao contrário do povo dos engenheiros do hawai eu não presto atenção mesmo que alguém esteja dizendo alguma coisa. Prestei atenção no filminho de herói, pelo menos, e eles abrem várias linhas de tempo diferentes, tipo realidades alternativas e eu queria me consolar de que em algum lugar, quem sabe. Mas não é consolo, afinal não importa quantas lucianas estejam vivendo em realidades melhores, essa aqui é árida. domingo é dia de sentir falta? sinto falta do suco de manga verde com sal na beirada do copo e do doce de leite com gosto de café – escrevo assim porque as coisas que realmente doem em ausência eu não poderia nomear. Existem opções, mas eu estou tão cansada. Um beijo domingueiro pra você.
Eu amo o que vc escreve. ,3
Cara, no dia em que eu tirar os livros das prateleiras aqui à minha volta…. nem sei. Acho que me afogo no mar da poeira.
Beijo.
HAHAHAHAHAHAH!!